terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Cartas de amor de homens célebres




"As cartas de amor começam sem saber o que se vai dizer, e terminam sem saber o que se disse".
Jean Jacques Rousseau (1712-1778)


As cartas de amor são ridículas


Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.


As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.


Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Fernando Pessoa


Cartas de amor de homens célebres

“Anjo, acabo de saber que há correio todos os dias. Tem calma, ama-me – hoje – ontem. Que saudades em lágrimas por ti. Tu, a minha vida, meu tudo, até breve. Oh, ama-me sempre, nunca duvides do meu coração fidelíssimo. Do teu amado."

(Ludwing Van Beethoven, 1770-1827, carta nunca enviada para a sua amada imortal)



“Oh, como gostaria de passar metade do dia ajoelhado aos teus pés, com a cabeça no teu regaço, sonhando belos sonhos, contando-te os meus pensamentos em langor, em enlevo, por vezes em silêncio, mas beijando o teu robe!... Ó minha bem amada Eva, luz dos meus dias, luz das minhas noites, minha esperança, minha adorada, minha inteiramente amada, minha única querida, quando te verei? (…) Um beijo, meu anjo da terra, um beijo saboreado lentamente, e boa noite! "

(Honoré de Balzac , 1799-1850, para a Condessa Ewelina Hanska, sua amante e mais tarde sua mulher)


“Minha querida Kitty: cheguei são e salvo, excepto pelo vazio do meu coração, que tu provocaste, como uma querida e encantadora desmazelada que és. (…) Estou sentado sozinho e solitário no meu quarto (dez da noite, depois do teatro) e daria um guinéu por uma carícia da tua mão.”

(Laurence Sterne, 1713-1786, para Catheriine Fourmantel, sua amante)



“Não vais acreditar na saudade que me possui. A razão principal é o meu amor e o facto de não me habituar a estarmos tão longe um do outro. (…) Os meus passos levam-me, verdade seja dita, ao teu quarto, mas não te encontrando aí, regresso de coração triste e desconsolado, qual amante rejeitado. Pensa tu o que tem sido a minha vida, quando só encontro o meu repouso na labuta, e o meu consolo no infortúnio e na angústia. Adeus.”

(De Plínio, o Novo, 61 D.C. – 112 D.C, para Calpurnia, sua mulher)



“Minha adorada noiva: (…) São sempre difíceis de acabar as minhas cartas – porque não ouso escrever os finais como os sinto. J'ai peur de vous effaroucher. E depois da sua proud reserve assusta-me um pouco. E assim só digo que te adoro, meu querido amor.”

(Eça de Queirós, 1845-1900, para Emília de Castro Pamplona, sua noiva e futura mulher)


“Meu querido Bebezinho: Não te admires de certo laconismo nas minhas cartas. As cartas são para as pessoas a quem não interessa mais falar: para essas escrevo de boa vontade. À minha mãe, por exemplo, nunca escrevi de boa vontade, exactamente porque gosto muito dela. Quero que sintas isto, que saibas que eu sinto e penso assim a este respeito, para não me achares seco, frio, indiferente. Eu não o sou, meu Bebezinho, minha almofadinha cor-de-rosa para pregar beijos (que grande disparate!) Mando um meiguinho chinês. E adeus até amanhã, meu anjo. Um quarteirão de milhares de beijos do teu, sempre teu. Fernando. "

(Fernando Pessoa, 1888-1935, para Ofélia Queiroz)


in DOYLE, Ursula - Cartas de Amor de Grandes Homens. Lisboa: Bertand Editora, 2009

Sem comentários: