É com tristeza que partilho com todos a notícia da morte do grande escritor Manuel António Pina. Na nossa biblioteca conhecemos sobretudo as suas obras para a infância e a juventude.
Fotografia de Lisa Soares
"O escritor que nasceu, em 1943, no Sabugal, na Beira Alta, vivia no
Porto desde os 17 anos numa casa com muitos gatos, que lhe davam
material de sobra para os poemas. Conta-se, e foi relatado no “JL -
Jornal de Letras, Artes e Ideias” em 2001, que durante a visita a uma
exposição de retratos de escritores portugueses na Feira do Livro de
Frankfurt, Helmut Kohl terá parado em frente da fotografia de Manuel
António Pina e de um gato e perguntado quem era o escritor.
Responderam-lhe que era “o do bigode”. E o chanceler terá dito: “Bigodes
têm os dois”. Além de integrar a representação oficial da literatura
portuguesa na Feira do Livro de Frankfurt, em 1997, o escritor esteve
também na comitiva do Salão do Livro de Paris, em 2000, e no Salão do
Livro de Genève, em 2001.
Durante a infância, foi-lhe difícil
fazer amigos. Andou de terra em terra por causa da profissão do pai que
era chefe das Finanças e também tinha o cargo de juiz das execuções
fiscais. A família nunca chegava a ficar mais de seis anos em cada
localidade. Foi o pai que o ensinou a ler e a escrever mesmo antes de ir
para a escola e treinava a ler os títulos do “1º de Janeiro”. Desde os
seis ou sete anos que escrevia poemas, que a sua mãe guardava, e embora
só tivesse publicado o primeiro livro de poemas em 1974, começou a
escrevê-lo em 1965.
Numa entrevista que deu ao “JL”, e 2001, contou
que num dia de grande trovoada a mãe o foi encontrar de joelhos a
escrever em cima de uma cadeira. Pensou que o filho estava a rezar mas
afinal, Pina estava a escrever “uns versinhos sobre a história do
milagre das rosas”. Era a sua maneira de combater o medo que tinha da
trovoada. “Hoje, já não me assustam as trovoadas, mas continuo a
escrever porque tenho medo. Se calhar, medo de ter medo, como dizia o
O’Neill”, acrescentou.Tinha mais de 50 livros publicados e muitos dos
seus livros nasceram da leitura de ensaios, disse na entrevista que deu
depois de receber o Prémio Camões 2011 ao PÚBLICO. As suas amigas
psicanalistas diziam-lhe que se não escrevesse, seria um bom cliente.
Por isso brincava dizendo que a escrita lhe dava para poupar muito
dinheiro.
Foi só depois do nascimento das suas filhas, a Sara em
1970 e a Ana em 1974, que começou a escrever literatura infantil. Em
1988 recebeu o Prémio do Centro Português para o Teatro para a Infância e
Juventude (CPTIJ) pelo conjunto da sua obra neste domínio. Em 1993,
recebeu o Prémio Nacional de Crónica, Press Club/ Clube de Jornalistas.
Em 2002, com a publicação de “Atropelamento e Fuga”, recebeu o Prémio da
Crítica, atribuído pela Secção Portuguesa da Associação Internacional
de Críticos Literários, ao conjunto da sua obra poética. Pelo livro de
poesia “Os Livros”, editado pela Assírio & Alvim em 2003, recebeu o
Prémio Luís Miguel Nava de Poesia e Grande Prémio de Poesia da
Associação Portuguesa de Escritores/ CTT. E em 2004, foi-lhe atribuído o
Prémio de Crónica da Casa da Imprensa, pelo seu conjunto de crónicas
publicadas em jornais e revistas.
[...]
Quando, em 2011, Manuel António Pina soube que lhe tinha sido atribuído o
Prémio Camões por toda a sua obra - que inclui poesia, crónica, ensaio,
literatura infantil e peças de teatro – afirmou: “É a coisa mais
inesperada que podia esperar”."
Por Isabel Coutinho, no Jornal Público de 19/10/2012, disponível em
http://www.publico.pt/Cultura/manuel-antonio-pina-1567976?all=1
Livros ao autor disponíveis na nossa Biblioteca:
Pequeno livro de Desmatemática
O Tesouro
História com Reis, Rainhas, Bobos, Bombeiros e Galinhas
Os Piratas
Poesia Reunida
Manuel António Pina, a propósito de um dos seus livros: