quarta-feira, 21 de maio de 2008

Boas Leituras II

“ Era uma aborrecida e chuvosa tarde de Primavera. Miguel tinha acabado há dez minutos de fazer os trabalhos para a escola e para a aula de inglês. Estava sozinho em casa e tinha-se posto à janela a ver as gotinhas leves que caíam na relva do pequeno jardim. Ainda faltava uma hora para a mãe voltar e não sabia o que havia de fazer. Tentou contar os salpicos que batiam na vidraça, mas, passados cinco minutos, ainda se sentiu mais aborrecido do que estava antes. Suspirando, afastou-se da janela e deixou-se cair como um peso morto na cama.
“Gostava tanto de ter um irmãozinho, ou um cão” pensou. “ Se tivesse, brincava com eles e nunca mais teria aquela ideia terrível, nunca mais.”
Mas, mal acabou de dizer “nunca mais”, a tal ideia terrível começou a falar. “

in“ O Cavaleiro Lua Cheia”, de Susanna Tamaro, publicado pela Editorial Presença

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Boas Leituras I


Nos próximos dias, deixaremos aqui extractos de livros disponíveis na Biblioteca. Para despertar a vontade de ler... Os livros estão lá, à espera, ansiosos que alguém os abra e inicie, na sua companhia, uma grande viagem! Boas leituras!

(Imagem disponível em http://img510.imageshack.us/img510/2417/ilust4qz5.jpg)


"Não me lembro de como tudo começou. Só sei que passeava ao luar e sobre a neve havia uma fina camada de gelo. Era contudo estranho para um começo, já que as crianças não costumam passear à noite sozinhas na floresta. Via a lua, lá no alto, redonda como um balão, como se estivesse suspensa sobre os abetos. Mas, nessa noite, passaram-se coisas ainda mais estranhas.
Ao passar pela lagoa, onde, com o meu pai, costumava estender-me no chão para observar os girinos, apareceu de repente à minha frente um duende. Não teria estranhado se ele tivesse surgido furtivamente do arvoredo ou de outro lado qualquer, mas não foi assim que aconteceu. Sentado na neve, tentava lembrar-me de qualquer coisa que se me esvaíra do pensamento. Inesperadamente, como que surgindo algures fora da floresta, apareceu diante de mim um duende. À excepção do barrete vermelho que os duendes costumam usar, estava todo vestido de verde. Embora adulto, era muito mais baixo que eu.
Quando já o podia ver tão nitidamente como as árvores à minha volta ouço-o proferir as primeiras palavras:
- Com que então?”

in“ O Palácio do Príncipe Sapo”, de Jostein Gaarder, publicado pela Editorial Presença

terça-feira, 6 de maio de 2008

"Festejar a Mãe"


"Maternidade", de Almada Negreiros
"A mãe é o único Deus que não tem descrentes na terra."
(Anónimo)
No passado dia 30 de Abril, pelas 21 horas, realizou-se na nossa escola um Sarau para homenagear a Mãe, no âmbito do projecto "Festejar a Mãe", projecto de articulação curricular entre a Biblioteca e as turmas do 6º ano de escolaridade. Iniciado no primeiro período, envolveu as disciplinas de Língua Portuguesa, Educação Visual e Tecnológica, Educação Musical, Educação Física e Área de Projecto. Os alunos desenvolveram, de forma articulada, actividades à volta da temática Mãe, realizaram trabalhos de investigação, trabalhos práticos, leituras diversas... A Biblioteca apoiou a realização das diversas actividades, forneceu os recursos necessários à implementação das mesmas, trabalhou em parceria com os professores envolvidos. Fruto do trabalho realizado nasceu uma exposição "A Mãe na Arte" ( trabalhos realizados em Área de Projecto sobre a Mãe na Literatura, na Escultura, na Pintura e na Fotografia...) e um Sarau.
Na presença das mães, dos pais, dos avós, os alunos declamaram poemas da sua autoria, entoaram poemas de autores portugueses (musicados pelas diferentes turmas em Educação Musical), dançaram ao som de canções sobre a mãe. A Oficina de leitura e escrita da Biblioteca participou também no Sarau com a declamação do "Poema à Mãe", de Eugénio de Andrade.

Viveram-se momentos de profunda alegria e de partilha de palavras e de afectos!


Ficam aqui dois poemas que foram musicados pelos alunos.


Fantasia

Oh mãe, conta-me histórias de encantar
Daquelas em que há príncipes e fadas,
Dragões que guardam torres encantadas,
E que contavas para me embalar.


Conta-me histórias, mãe! Lendas infindas
De castelos erguidos nas colinas,
Onde habitavam fadas e meninas,
Brancas e loiras, sempre muito lindas.


Mãe, conta-me histórias de encantar,
Dos anjos que no azul do céu voavam,
Dos lagos onde cisnes passeavam,
E que eu revia à luz do teu olhar.


Conta-me histórias como em pequenino
Me contavas e tudo me sorria.
Histórias lindas que eu atento ouvia...
Oh que saudades, mãe, de ser menino.

Emanuel Félix ( 1936-2004)

Mãe 2


Tigelinhas brancas
compotas macias
Minha mãe quantas
tigelinhas enchias


Tigelinhas brancas
para todos os dias
Minha mãe quantas
tigelinhas vazias


Tigelinhas brancas
doces como querias
Minha mãe quantas
saudades eu tenho


João Apolinário (1924-1988)


(Poemas retirados de "A Mãe na Poesia Portuguesa", uma antologia de Albano Martins, publicada pelo Público)