terça-feira, 17 de junho de 2008

Boas Leituras III

"Alexander Cold acordou ao amanhecer sobressaltado por um pesadelo. Sonhava que um enorme pássaro preto se atirava contra a janela com um fragor de vidros estilhaçados, entrava em casa e levava a sua mãe. No sonho, ele observava impotente como o abutre gigantesco agarrava em Lisa Cold pela roupa, com as suas garras amarelas, saindo pela mesma janela partida e desaparecendo num céu carregado de grandes nuvens negras. Acordou-o o barulho da tempestade, o vento fustigando as árvores, a chuva sobre o telhado, os relâmpagos e os trovões. Acendeu a luz com a sensação de estar num barco à deriva e aconchegou-se contra o vulto do cão enorme que dormia a seu lado. Calculou que a poucos quarteirões de sua casa, o oceano pacífico rugia, agigantando-se em ondas furiosas contra a muralha. Ficou a ouvir a tempestade e a pensar no pássaro preto e na sua mãe, esperando que acalmassem os batimentos de tambor que sentia no peito. Estava ainda enleado nas imagens daquele pesadelo.
O rapaz olhou para o relógio: seis e meia, horas de se levantar. Lá fora começara a clarear. Pressentiu que este seria um dia desastroso, um daqueles dias em que mais valia ficar na cama porque tudo corria mal.”

In " A Cidade dos Deuses Selvagens", de Isabel Allende, publicado pela Difel

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